Depois de excelentes análises e explicações feitas por especialistas sobre a mudança de planos na CBDC (Moeda Digital de Banco Central em inglês) já batizada de Drex, o que me resta a fazer é tentar arriscar alguns palpites superficialmente cyberfilosóficos, pensados mais usando o fígado do que o cérebro.
Confesso que para mim o adiamento do uso do blockchain no Drex, mesmo não sendo oficialmente descartado ainda, foi um choque (naquilo que acostumamos a entender como mercado) quase tão grande quanto o fim dos projetos Starbucks Odyssey na Polygon e o Nike Rtfkt na Ethereum. Deixou claro que a ideia inicial tinha "dono", pois lembro que o antigo presidente do BC estufava o peito pra falar do Drex como "dinheiro programável". Na hora meus ouvidos de torcedor do América* traduziam para smart contracts na blockchain. Um raciocínio da polifonia que vemos na deFi sendo lenta e irreversivelmente institucionalizada.
Mas tem tb o lado daqueles que são radicalmente contra CBDCs, como imagino serem os trumpistas e libertários nos EUA. Pessoas que temem o governo controlando/rastreando todos os bolsos e preferem que empresas cuidem disso. Imagino que um Drex centralizado reforce o argumento desta turma, estigmatizando todas as moedas digitais como tecnologia de centralização, vigilância e tirania digital. Pelo que ouvi falar, o Genius Act recente deixou o governo estadunidense explicitamente fora dessa passando a bola pras empresas e organizações tocarem suas stablecoins, baseadas no dólar no final das contas.
E para os puristas cripto, sem um caso de uso enorme de DLT ou blockchain permissionada como o Drex, acho que afasta uma ameaça, menos uma nuvem negra no horizonte. Não sei se existe esse receio nas comunidades blockchain, mas pra mim acho que todo o discurso web3 de descentralização, autocustódia e autonomia corre o risco ser absorvido ou colocado pra escanteio pelas grandes corporações (e governos), como já aconteceu com o compartilhamento p2p de música e video.
Valeu! Saúde, sucesso e boa sorte mais uma vez!!
* Uma vez, na época do começo da internet, lembro que encontrei em um evento o então considerado maior profissional de criação do marketing direto. Empolgado comecei a falar pra ele como a novidade tinha tudo a ver com personalização, comunicação um pra um, etc, etc. Depois que acabei, com uma cara de enfado ele me respondeu: quem torce pro América vê a tabela do campeonato carioca de um jeito diferente (de quem está por cima).
PS: Texto adaptado de mensagem enviada no grupo de Whatsapp da Gira DAO. A história com o personagem Blockchain Cat com noogles (homenagem ao Nouns Br) está compartilhada como arquivo público no Canva sob licença Creative Commons, livre para uso e edições citando o autor original.
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Wagner Tamanaha
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